Marcel.lí Antúnez Roca

Tantal

Abstract:
O sistema de identificação utilizado pelo teatro, o cinema, a literatura e a arte em geral está ligado à descrição de personagens, através dos quais imergimos em sua história como espectadores. Apesar de sermos fisicamente distantes do personagem, por alguns instantes nos sentimos parte dele. Assim, fazemos nossa a dúvida de Hamlet na tragédia de Shakespeare, ou nos identificamos na loucura de Dom Quixote de Cervantes. Com freqüência penso no que aconteceria se essa identificação nos permitisse viver, de nossa identidade física, alguns desses papéis. Viver as histórias extraordinárias dentro de nossa pele. A instalação Tantal contempla essa possibilidade. Tecnicamente, Tantal consiste em um dispositivo que permite captar uma seqüência animada do rosto dos espectadores que o desejarem. Essas imagens são processadas por um sistema informático que junta os rostos captados aos corpos que criam a ação de filmes previamente preparados. Esses filmes são projetados em uma tela. Os rostos dos usuários da interface se transformam em atores através dos corpos virtuais do filme; o espectador troca o âmbito privado pelo público. As cenas do filme mostram acontecimentos aleatórios, mu­táveis, que representam ações às vezes extremas e proibidas, outras grotescas e irônicas. Trata-se de histórias que mostram e criticam alguns dos temas da censura atual: a violência corporal, a forma do corpo e a sexualidade. Tantal propõe um mecanismo que no aproxima do que chamo de Identidades Efêmeras. As identidades efêmeras seriam aquelas que nos permitiriam viver de maneira passageira uma nova identidade; pode ser a de outra espécie, talvez um inseto, ou, por que não, uma identidade fantástica como a Sereia ou simplesmente outro perfil humano. Essas novas identidades efêmeras deveriam trazer novas experiências, e portanto novas formas de conhecimento.

Biography:
Marcel.lí Antúnez Roca (Moià, 1959) é conhecido no cenário artístico internacional por suas performances mecatrônicas e instalações robóticas. Nos anos 90, suas performances mecatrônicas vanguardistas combinavam elementos como Bodybots (robôs controlados pelo corpo), Sistematurgia (narração interativa com computadores) e Dresskeleton (a interface esqueleto-corpo). Os temas explorados em seu trabalho incluem: o uso de materiais biológicos na robótica, como em JoAn? l’home de carn (1992); controle telemático por parte do espectador de um corpo estranho na performance EPIZOO (1994); a expansão dos movimentos corporais com dresskeletons nas performances AFASIA (1998) e POL (2002); coreografia involuntária com o Bodybot, REQUIEM (1999); e transformações microbiológicas nas instalações RINODIGESTIO (1987) e AGAR (1999). Atualmente ele trabalha na obra espacial e utópica TRANSPERMIA. No início dos anos 90 sua performance EPIZOO causou comoção no cenário artístico internacional. Pela primeira vez os movimentos físicos de um performer puderam ser controlados pelo público. Operando um videogame, o espectador interage com o bodybot usado por Antúnez, movendo suas nádegas, músculos peitorais, boca, nariz e orelhas. Essa performance salienta o paradoxo irônico e até cruel que surge da coexistência entre a iniqüidade digital virtual e a vulnerabilidade física do artista. Desde os anos 80 o trabalho de Antúnez se baseou numa constante observação de como os desejos humanos se expressam e em que situações específicas eles surgem. Primeiro nas performances tribais do La Fura dels Baus e mais tarde por conta própria, ele expressou seu interesse pela criação de sistemas complexos, em muitos casos híbridos, difíceis de classificar. O trabalho de Antúnez pertence tanto ao campo das artes visuais quanto ao das artes cênicas. Desde o início da década de 90, a incorporação e a transgressão de elementos tecnológicos e científicos na obra de Antúnez, e sua interpretação por meio de dispositivos únicos e específicos, produziram uma nova cosmologia – quente, crua, irônica – de temas tradicionais como afeto, identidade ou morte. Em suas obras esses elementos assumem dimensões extremamente humanas, o que causa uma reação espontânea do público. Ele também foi um dos fundadores do La Fura dels Baus, trabalhou na companhia como coordenador artístico, músico e performer de 1979 a 1989 e apresentou as macroperformances do grupo ACCIONS (1984), SUZ/O/SUZ (1985) e TIER MON (1988). Antúnez apresentou seu trabalho em diversos eventos internacionais, incluindo La Fundación Telefónica em Madri, P.A.C. em Milão, Lieu Unique em Nantes, I.C.A. em Londres, SOU Kapelica em Ljubljana, Cena Contemporânea no Rio de Janeiro, MACBA em Barcelona e DOM Cultural Center de Moscou. Apresentou-se nos festivais internacionais EMAF Osnabruc Alemanha, Muu Media Festival Helsinque, Noveaux Cinema Noveaux Medias Montreal, DEAF Roterdã, Spiel Art Munique, Ars Electronica Linz Áustria, DAF Tóquio, entre outros.