Ricardo Barreto, Maria Hsu & AMUDI

feelMe

“feelMe” é uma obra que pela primeira vez transmite à distância a sensação tátil. Nosso trabalho provoca a exploração do sentido do tato ao promover a interação entre duas pessoas, mediada pela máquina.
A obra é constituída de duas superfícies ou “camas”: a primeira (unidade de transmissão tátil), na qual um dos participantes, deitado, imprime marcas a sua superfície ao pressioná-la com o peso e movimento das diversas partes de seu corpo; estas impressões serão capturadas e transmitidas ao outro participante, que se deita na segunda “cama” (unidade de recepção tátil) e que as recebe simultaneamente nas mesmas posições e em intensidades proporcionais, só que em negativo, isto é, onde a superfície na primeira se afunda, eleva-se na segunda, promovendo um toque.
O primeiro corpo toca o segundo, sendo que as “camas” podem distar entre si alguns metros ou alguns milhares de quilômetros. Entre os corpos, atuam, ocultos, dezenas de sensores, microcontroladores, motores (atuadores lineares), computadores e uma programação que orquestra essa comunicação tátil.
Proporcionamos ao participante experimentar as possibilidades de encontro entre corpos através do mundo digital, com uma abordagem diferente da proporcionada pela realidade virtual. Queremos explorar a percepção tátil no “seu modo corpóreo” isoladamente, para somente em futuros trabalhos propormos a expansão/extensão da percepção multimídia com a inclusão da percepção tátil. Como a nossa recepção para estímulos visuais e auditivos está tão mais adestrada para a fruição estética, optamos por isolar e destacar o tato, para que enfim possamos redescobri-lo no contexto da arte, da artemídia. Entendemos, no entanto, que a comunicação multimídia incluirá no futuro todos os sentidos simultaneamente, inclusive o olfato e o paladar.
O sentido do tato é o mais primitivo na escala filogenética. No corpo humano ele está presente em toda a sua superfície externa, além de algumas estruturas internas, e envolvido em diversas funções fisiológicas vitais. Em sua relação com as emoções, estudos demonstram que o toque resulta na diminuição de hormônios ligados ao estresse, como o cortisol, e a elevação dos níveis de hormônios que promovem laços sociais e sensação de bem-estar como a ocitocina. O toque é sabidamente capaz de comunicar diversas emoções, tais como amor, gratidão, compaixão e segurança.
A reação extrema frente às denúncias de abuso sexual de crianças, nos países europeus e nos Estados Unidos, resulta em uma sociedade que se toca cada vez menos. Isto se dá em todas as faixas etárias, não somente no âmbito público, mas também entre familiares, o que resulta numa perda progressiva de seus benefícios psicológicos e fisiológicos. Até o tapinha nas costas foi abolido. Somado ao lema “Tocar é tabu”, há uma substituição progressiva da comunicação presencial e o encontro físico entre as pessoas pela comunicação nos espaços digitais. É imprescindível discutir como evoluirá a questão do tocar numa sociedade que evolui prevenindo-se do contato físico e que se comunica progressivamente mais no ciberespaço.
“feelMe” é uma plataforma de comunicação tátil à distância em que qualquer tipo de experiência é valida: a sensação corpórea de bem-estar de um toque profundo, a conexão interpessoal, a rememoração de acontecimentos passados, a sensação de perda de controle, a estranheza do afago do outro através da máquina, a incompreensão desses toques, o enigma do que o outro pretende, tudo é de interesse. [Maria Hsu]

FILE PAI 2011

BIography:
O trabalho envolve os artistas Ricardo Barreto e Maria Hsu, conjuntamente com o grupo Amudi de Arte e Tecnologia que é constituído por alunos da Escola Politécnica de Engenharia USP.

Ricardo Barreto é artista e filósofo. Atuante no universo cultural, trabalha com performances, instalações e vídeos e se dedica ao mundo digital desde a década de 90. Participou de várias exposições nacionais e internacionais tais como: XXV Bienal de São Paulo em 2002, Institute of Contemporary Arts (ICA) London – Web 3D Art 2002, entre outras. Concebeu e organiza juntamente com Paula Perissinotto o FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica.

Maria Hsu tem se dedicado às artes visuais utilizando diversas mídias: pintura, fotografia e arte digital a partir de 2000, tendo, até então, exercido a medicina. Após participar de exposições coletivas em São Paulo em 2003 e 2004, apresentou trabalho de internet arte no FILE São Paulo de 2004 e instalação de arte digital no FILE RIO 2005 e no FILE São Paulo em 2006. Em 2007, participou da Trienal de Arte de Luanda (Angola), da Mostra no SESC Esquina em Curitiba, do FILE Rio 2007 e do FILE Porto Alegre em 2008 em coautoria com Ricardo Barreto.

AMUDI – Núcleo de Arte e Tecnologia da Escola Politécnica de Engenharia da USP: Breno Flesch Franco, Daniel Augusto Azevedo Moori, Erica Usui, Guilherme Wang de Farias Barros, João Flesch Fortes, Leandro Molon e Nadia Sumie Nobre Ota.

O Núcleo AMUDI surgiu na Escola Politécnica de Engenharia da USP como um projeto multidisciplinar com o objetivo de realizar pesquisas e desenvolver projetos que conjugam arte multimídia, tecnologia e interação. Hoje, o AMUDI também desenvolve projetos culturais que envolvem intervenção urbana e conta com a participação de diversas faculdades e artistas independentes.