Gabriela Golder

Rescate

Abstract:
“Esperando que um mundo seja desenterrado pela linguagem, alguém canta o lugar onde o silêncio se forma. Depois comprovará que não por se mostrar furioso o mar existe, nem o mundo. É por isso que cada palavra diz o que diz e mais além e outra coisa”. Alejandra Pizarnik As palavras são o ponto de partida da obra RESGATE. Palavras que tentaram se calar, enterrar, queimar, assassinar, exilar. Palavras que escaparam do fogo, as palavras que escaparam de livros que não conseguiram escapar. As palavras se tornam visíveis. Por serem ditas, as palavras são, por serem ditas, escapam do esquecimento. Nomear. Como uma ladainha, repetir as palavras com um único fim, nomear para que não desapareçam. A criação de universos de palavras. As palavras se tornam visíveis gerando espaços. As palavras dizem-se a elas mesmas. Tímidamente, susurrando-se, elas se dizem, para não deixar de existirem. Cada universo, cada espaço, começa com outra palavra. Essas palavras foram resgatadas de livros de autores argentinos, livros que foram queimados durante a última ditadura militar, livros que foram censurados, de escritores encarcerados, desaparecidos, assassinados, exilados. As palavras poderiam ter sido outras, e de outros livros, poderiam ser de qualquer lugar do mundo que tivesse padecido de censura, queima de livros, repressão, morte. Ao escolhê-las, ao agrupá-las, ao fazê-las visíveis, essas palavras habitaram o espaço. E lá ficaram, e lá aparecerão a cada vez que alguém queira escutá-las.