Tim Coe

A Perfect Face (instalação generativa)

Abstract:
O espectador é confrontado com um rosto na tela que está constantemente mudando, de modo quase imperceptível. O cabelo e a maquiagem perfeitos provocam a expectativa de uma linda modelo, mas isso nem sempre acontece. O ponto de partida é a “top model” Claudia Schiffer, porém as feições estão em fluxo, “mutando” a intervalos de segundos para uma nova configuração. Nossa reação ao rosto se modifica entre atração e repulsa. A beleza há muito tempo se tornou uma mercadoria que pode ser comprada e vendida. “O rosto perfeito” testa e desafia constantemente nossa ideia do que é a beleza. Sabemos que ao longo da história registrada as pessoas se preocuparam com o tema da beleza, especialmente a beleza física feminina. Pode-se assumir que já era uma preocupação antes do registro histórico. Dos antigos egípcios até Leonardo da Vinci e Stephen Marquardt1, as pessoas tentaram quantificar a beleza e algumas até acreditaram ter conseguido. No entanto, uma fórmula matemática capaz de prever confiavelmente se o rosto é percebido como belo ou não ainda é uma ilusão. Apesar da aparente impossibilidade de quantificá-la, muitas pesquisas foram feitas sobre nossa percepção de beleza. Parece haver um acordo geral de que, apesar dos gostos individuais e das modas passageiras, a percepção da beleza permanece constante ao longo do tempo e em todas as culturas e raças. Um estudo2 afirma que a mediania é considerada a mais bela. Através da composição de diversas fotos, surgiu um rosto médio que foi considerado pela maioria das pessoas o mais belo – os desvios dessa média são menos belos. A beleza não tem interesse apenas intelectual e estético. É uma questão comercial, gerando bilhões de euros por ano. De um lado existe o desejo de comprar a beleza na forma de cosméticos, terapias e cirurgia plástica. De outro, esse desejo é propagado e até criado por meio do marketing da beleza. Os produtos de beleza são vendidos com um rosto bonito, é claro. Mas tudo, de um chocolate a um aparelho de televisão, vem acompanhado de um rosto bonito. O fato de os donos desses rostos bonitos receberem altas remunerações é apenas a ponta do ­iceberg. Outro estudo3 descobriu que as pessoas com rostos considerados belos ganham em média 13% a mais do que as não tão bonitas. Exatamente como percebemos os rostos é uma questão muito debatida. Mas todos os pesquisadores podem concordar que temos uma capacidade minuciosa de interpretar rostos utilizando uma grande quantidade de nossa capacidade mental. O rosto é, afinal, o meio mais importante de comunicação humana, tendo um papel importante na sobrevivência e na reprodução, assim como em nossas habilidades sociais. Diante de um novo rosto, fazemos avaliações instantâneas sobre atração, personalidade, humor, inteligência, saúde, sexualidade, idade da pessoa. Essas avaliações são misturadas a uma forte reação emocional de atração ou repulsa, ameaça potencial, parceiro sexual, amigo ou inimigo potencial. Assim, diante de “O rosto perfeito” somos obrigados a reavaliar o rosto a cada poucos segundos, e nossas reações emocionais mudam. A utilização do rosto de uma “top model” exemplifica a beleza em sua forma mais superficial, em que a beleza é recompensada independentemente de outras qualidades como inteligência, talento e personalidade. No entanto, o rosto toca um nível mais profundo de percepção e emoção, e não podemos deixar de interpretar toda a gama de qualidades humanas na pessoa que vemos na tela.
1. Stephen Marquardt, “Cirurgião estético” da Califórnia, ver www.beautyanalysis.com. O título desta obra se refere à frase inicial do site – “O que é um rosto perfeito?”.
2. Langlois e Roggmann 1990.
3. London Guildhall University survey of 11,000 people.

Biography:
Tim Coe nasceu em 1963, em Blackpool, Inglaterra. Mudou-se para Londres, em 1984, para estudar Filosofia. Depois de estudar Cinema e Animação, co-fundou a produtora Chromatose Films, fazendo videoclipes para o cenário musical independente de Londres enquanto criava filmes e vídeos artísticos para eventos e exposições. Em 1995, mudou-se para Berlim, onde continua fazendo curta-metragens, vídeos e instalações de vídeo. Exposições recentes: FILE 2006, Rio de Janeiro; FILE 2005, São Paulo.