FILE LED SHOW 2017

Diálogos possíveis

FILE LED SHOW
Festival Internacional de Linguagem Eletrônica

 

 

O FILE LED Show 2017: Diálogos possíveis apresenta dezoito obras divididas em três mostras que utilizam a Galeria de Arte Digital do Sesi-SP como suporte para a investigação de diferentes linguagens artísticas: o Cinema Algoritmo, o Projeto Faces e uma ação colaborativa com a Universidade de Nova York Abu Dhabi. As criações na superfície do edifício transformada em tela enfatizam o diálogo da poética com o aspecto material da imagem, já que o suporte sobre o qual ela se materializa, ainda que de forma efêmera, é um elemento essencial na sua concepção.
A mostra Cinema Algoritmo exibe “Daemon”, do austríaco Hansi Raber e do alemão Andreas Lutz, “Saccade”, do coletivo turco Ouchhh Studio, e “Algo_light”, do artista espanhol Servando Barreiro. De forma similar aos cineastas da vanguarda abstrata, esses artistas criam combinações de diferentes formas que visam atingir o espectador através de embates entre luz e escuro, traços e figuras geométricas ou orgânicas. “Daemon” faz referência às experimentações do cinema estrutural de Peter Kubelka ou Tony Conrad. Neste vídeo, assim como em “Arnulf Rainer” (1960) e “The Flicker” (1966), luzes intermitentes inquirem os passantes da Avenida Paulista a prestar atenção nas reações que tais estímulos visuais causam em seus corpos. “Algo_light” apresenta figuras circulares que ecoam filmes baseados nesse formato, como “Samadhi” (1967), de Jordan Belson. Mas a proposta de meditação profunda de Belson não é possível na rua. No contexto da metrópole, em que somos tomados por diversos estímulos visuais, sonoros e olfativos, o próprio ato de perceber a arte que nos circunda já é resultado de um posicionamento distinto diante da cidade. Uma forma de encará-la que foge da alienação do dia-a-dia e atenta às nuances dos acontecimentos ao nosso redor. “Saccade” surge como uma espécie de combinação de “Daemon” e “Algo_light” ao reunir luzes intermitentes e diferentes formas geométricas e orgânicas simuladas. Os filmes desses artistas mesclam importantes referências da história do cinema experimental com as recentes técnicas de geração de imagens digitais. O cinema algoritmo resulta, assim, em uma nova forma de expressão que dialoga diretamente com a arte que se constituiu antes dele.
O Projeto Faces segue uma lógica similar, que combina elementos da história da arte com técnicas atuais de geração de imagens. Esta mostra constitui uma adaptação pública e em alta escala de dez retratos concebidos originalmente pelo artista eslovaco Adam Pizurny como gifs. Pizurny se apropria de scans em 3D encontrados na internet para modificá-los digitalmente e criar animações que desconstroem os rostos originais. Algumas faces se tornam máscaras de tecido que voam, outras parecem dissolver em meio a bolhas ou ondas na água. Ainda há as que se fundem com elementos externos, se fragmentam ou sobrepõem, de modo a lembrar as telas cubistas de Picasso ou Braque. O retrato, forma tão antiga de representação artística, sai do browser de internet e vai à superfície do edifício, dialogando com as diversas faces que passam pelas ruas da cidade todos os dias.
Além dos transeuntes, o cenário da Avenida Paulista abrange cinco projetos de jovens artistas, representantes de países como Turquia, Sri Lanka, Peru, Dubai, Estados Unidos, Paquistão e Emirados Árabes Unidos. Em parceria com a Universidade de Nova York Abu Dhabi, as obras “Droplet”, de Alia Alharmi, “Evolving Roots”, de Ekin Basaran, “Mudança de Dança”, de Harshini J. Karunaratne, “Window”, de Nahil Ali Memon, e “Crossroads”, de Felix Hardmood Beck e Zlatan Filipovic, foram desenvolvidas especialmente para esta exposição. O tempo, a dinâmica entre natureza e tecnologia, a imagem em movimento, a expressão corporal e a arquitetura são questões exploradas por esses artistas. As adaptações relativas ao suporte do edifício subjazem às poéticas e servem de metáfora para ações cotidianas, as quais envolvem o conflito entre modos de vida e a necessidade de aprendizado da tolerância às diferenças.
As três mostras do FILE LED Show 2017: Diálogos possíveis indicam que as adaptações a determinado ambiente, como o uso de uma tecnologia como linguagem artística, um suporte distinto de imagem ou o dia-a-dia em locais privados e públicos, sempre requerem um esforço para conciliar o antigo e o novo; pois um não substitui o outro, mas com ele deve aprender a dialogar. O espaço público da fachada do edifício pode abrigar diversas vozes com as quais a conversa com os passantes se torna possível através da arte.

Fernanda Almeida
Curadora do FILE LED Show 2017