FILE SÃO PAULO 2015

‘File SP’ cria novas emoções por meio da arte eletrônica
A 16ª edição do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica apresenta instalações interativas e mistura arte e tecnologia para propor ‘The New E-Motion’

O balanço que se encontra pendurado na parede branca parece ser um convite a uma brincadeira de criança. Apoiado sobre ele, uma máscara com lentes em 3D transforma toda a experiência lúdica em uma viagem ao universo da realidade virtual, que é apresentado a cada embalo por meio das imagens desenhadas em aquarela. A instalação Swing foi pensada em sua totalidade, desde a ideia abstrata até a concepção prática da tecnologia, pela dupla alemã Christin Marczinzik e Thi Binh Minh Nguyen e é o ícone da exposição File SP 2015 – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, que abre nesta terça-feira no Centro Cultural Fiesp Ruth Cardoso, em São Paulo, e permanece até 16 de agosto. “No trabalho Swing você veste o óculos e se balança com o objeto, então, o seu movimento repercute dentro da realidade virtual que está em sua mente. É uma situação esdrúxula, porque você está vendo que está balançando algo real, mas, ao mesmo tempo, esse algo real está balançando dentro do mundo virtual. Ainda, é algo inédito porque provoca novas sensações, assim, sintetiza a proposta do evento”, diz Ricardo Barreto, organizador da 16ª edição do Festival que tem como mote explorar as diferentes sensações promovidas pela conexão entre o mundo digital e a arte. “Esse ano trazemos a proposta do The New E-Motion e com ela a ideia do movimento que cria novas emoções”, conta.
Ao todo, serão mais de 330 trabalhos que vão ocupar mil metros quadrados de área expositiva dentro da Galeria de Arte do SESI-SP e, para além dos muros do prédio, outros espaços abertos, como a Galeria de Arte Digital na fachada do edifício, as calçada da Avenida Paulista e as estações de metrô da região. Para esta edição, o File SP vai reunir as mais diferentes categorias que expressam novas poéticas da arte e da tecnologia por meio de instalações, games, cinema, vídeos, animações e imersões estéticas em três dimensões. Durante a primeira semana do evento, serão realizados onze workshops gratuitos com profissionais das áreas de animação, música, videomapping e hardware a fim de fomentar a cultura da arte eletrônica. “Os workshops são sempre bem vindos. Nós enfatizamos a produção na arte. Os encontros são para desenvolver tecnologia e relacioná-la com projetos artísticos”, explica o organizador.
“Nas primeiras edições do File, o objetivo era mostrar ao público novas tecnologias interessantes. Os artistas, inicialmente, eram apenas demonstradores dessas tecnologias. Com o passar dos anos, começamos a notar o surgimento de uma nova estética. Os criadores passaram a se preocupar mais com a poética do que com a tecnologia”, diz Barreto que está envolvido com o projeto desde a sua primeira edição e, agora, percebe um amadurecimento da concepção do gênero da arte eletrônica.
Se, por um lado, a arte moderna buscou sintetizar os seus valores de acordo com os valores econômicos, tecnológicos e sociais das indústrias da modernidade, por outro, a arte eletrônica vai preferir formas lúdicas, ecléticas e fragmentadas. “Para esta File criamos um edital em que vários trabalhos nacionais e estrangeiros foram inscritos e tentamos capturar as intervenções que são inovadoras. Então, reunimos e apresentamos aqui um fragmente dessa produção variada”, diz Barreto. “São muitas formas de criatividade que estão sendo desenvolvidas entre a arte contemporânea e a arte eletrônica. Hoje, procuramos trazer um mix entre essas duas vertentes. Acredito que é esse o caminho mais interessante, mas não quero reduzir isso em uma proposta. Acho que o que existem são muitas tendências. O mundo digital é interconectado”. Assim, a arte passa a representar o imaginário da pós-modernidade e o digital traz novas possibilidades para a mistura, a apropriação e a recombinação de estilos. “A linguagem da programação pode servir para algo na arquitetura, na escultura ou para fazer um design da moda. A gente quer saber como essas interconexões estão acontecendo. É isso que é inovador no século XXI, o artista se apropria da tecnologia para criar novas realidades”, diz o organizador.
Neste sentido, outra instalação chama a atenção no galpão da mostra. São três telas de televisão dispostas em uma parede e que servem de base para uma performance de Oli Sorenson, artista canadense. “Aqui, o artista utiliza o cinzel, ferramenta para fazer esculturas, e vai quebrando estas telas dos televisores em tempo real e começa a criar ranhuras, como as do [Jackson] Pollock. A partir das ideias do pintor ele cria uma estética nova. Ele se apropria do tecnológico para desapropriar as telas e fazer delas arte”, explica Barreto. A ideia da interação, aliada à possibilidade das recombinações promovidas pela era digital transforma a arte eletrônica em, sobretudo, uma arte comunicativa.