FILE SÃO PAULO 2015

Sensibilidade contemporânea

O olhar, a análise de uma obra de arte ou do panorama artístico muda com o passar do tempo, as relações culturais, as transformações da sociedade como um todo, o avanço tecnológico além de uma variada gama de circunstâncias influenciam a sensibilidade humana, atingindo tanto o artista como o apreciador. As ilimitadas possibilidades da criação artística permite vislumbrar a dinâmica do comportamento existencial, a cada época uma multifacetada realidade a envolver os pensamentos e os desafios advindos de momentos cruciais, opções e caminhos a serem percorridos sempre na direção do desconhecido.

A aventura da arte se restringe na comunicação pura do encontro da alma com o fluxo inovador das elucubrações plásticas que germinam em propostas nem sempre revolucionárias mas conectadas com a vibração lúdica da vida.

No âmago das questões marcantes da diversidade criativa percebe-se que as influências contribuem para a busca de novas perspectivas refletindo a dinâmica vital das transformações envolvendo linguagens e confrontos estéticos. A complexidade do comportamento humano se reflete na produção artística em suas incursões tanto sutis como impactantes.

No frescor de uma sensibilidade mais coesa com concepções arrojadas a produção recente de Sérvulo Esmeraldo e Marco Giannotti em duas mostras marcantes é o destaque atual da Galeria Raquel Arnaud (Rua Fidalga,125, Vila Madalena). Esmeraldo expõe em “Traço Volume Espaço” 22 obras entre esculturas, relevos e desenhos compondo um painel elucidativo de sua criação unindo apuro estético em formas inusitadas numa linguagem onde o equilíbrio e a precisão assumem uma dimensão rítmica ao lado de criações não recentes, proporcionando uma leitura ágil, estimulando também observações mais apuradas. Marco Giannotti apresenta em “Entropia” dez obras germinadas de resíduos urbanos como plantas e grades, criando impressões desses objetos sobre telas, utilizando técnicas de pinturas, alcançando efeitos imprevisíveis.

Na Galeria Bergamin (Rua Oscar Freire, 379) Manfredo de Souzanetto apresenta pinturas, fotos e objetos tridimensionais na mostra “Paisagem Ainda Que” espelhando os 40 anos de sua carreira, um olhar reflexivo sobre a paisagem e as incríveis possibilidades da pintura atual sem limitações, rompendo barreiras. Uma obra diretamente vinculada com o geométrico tridimensional, extrapolando a tela e ganhando outras dimensões espaciais.

O artista britânico Ian Davemport expõe pela primeira vez no Brasil na Dan Galeria (Rua Estados Unidos, 1638) apresentando 18 obras realizadas entre 1992 e 2015, abrindo uma panorâmica de suas fases marcantes, especialmente o relacionamento cromático nas linhas em sequência e nos arcos e círculos concebidos sobre alumínio e aço. Uma obra de intensa vibração no domínio das cores com seus efeitos requintados.

Na agenda das manifestações artísticas mais recentes destaca-se a 16º edição do File – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (Sesi – Av. Paulista, 1313) reunindo obras vinculadas à alta tecnologia de realizadores alemães, franceses, belgas, suecos, coreanos, espanhóis, suecos, japoneses, norte-americanos e brasileiros com incríveis produções. Uma atração porém especial é o filme “Shirley- Vision of Reality”” do austríaco Gustav Deutsch, que faz uma releitura da obra de Edward Hopper (1882-1967), inserindo o personagem Shirley nas suas telas. As cenas são magníficas com um roteiro brilhante, revisa 36 anos da história americana e mundial.