FILE SÃO PAULO 2016

Festival Internacional de Linguagem Eletrônica reúne 339 artistas em busca de novos meios
Em sua 17.ª edição, File exibe trabalhos de criadores de 31 países na Galeria de Arte do Sesi

Antonio Gonçalves Filho,
O Estado de S. Paulo
18 Julho 2016 | 04h00

A fila gigantesca para penetrar na instalação Tape São Paulo, no primeiro dia do File – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, terça-feira, 12, não deixou dúvidas: a 17.ª edição do evento deverá ultrapassar o número de visitantes da última, 73 mil pessoas (em seis semanas), podendo chegar a 100 mil espectadores. O sucesso não se limita à instalação Tape, feita com fita adesiva transparente pelo coletivo Numen/For Use, formado por artistas croatas e austríacos. Quase todas as obras do festival são interativas.

Junte-se a isso as férias escolares e a familiaridade dos jovens com gadgets eletrônicos e o resultado é um grande festival de luzes, cores e som, do qual participam 29 brasileiros entre os 331 projetos selecionados.

“Venha Passar do Limite” é o tema desta 17.ª edição do festival, concebido originalmente como uma pequena mostra de arte eletrônica – ela cresceu e hoje incorpora várias modalidades do gênero, entre instalações interativas, como a do coletivo Numen, e obras de arte virtual, como o ambiente imersivo The Night Cafe, do animador norte-americano Mac Cauley , que leva o espectador para dentro da tela homônima de Van Gogh com a ajuda de um óculos 3D. Além delas, o festival tem games, animações e videoarte, feitos por 339 artistas de 31 países.

Obra do artista japonês Norimichi Hirakawa no File – Festival de Linguagem Eletrônica
O festival, com curadoria de Paula Perissinotto e Ricardo Barreto, não privilegia nenhuma das mídias. É bastante heterogêneo, exibindo desde um led show com uma escada inundada pela água, que cai como numa cachoeira (a obra Sentido Único, da brasileira Angella Conte) até um autômato chamado Robinson, do chinês Ting-Tong Chang, um monstrengo de orelhas pontiagudas capaz de expressões assustadoras. “Não é possível detectar uma tendência na arte eletrônica, uma convergência de linguagens”, observa Paula Perissinotto.

Predomina, porém, certo espírito hedonista, característico de nossa época, facilmente perceptível num experimento multissensorial que explora o tato, o olfato, a audição e a visão. Chama-se Be Boy Be Girl, justamente porque seus idealizadores, os holandeses Frederik Duerinck e Marleine van der Werf, deixam o espectador escolher o gênero a que queira pertencer nessa instalação, projetada para simular uma ilha paradisíaca. Registrado em 3D, o filme em 360 graus mostra uma praia do Havaí, transportando o espectador para o cenário real (com cheiro de filtro solar e sensação de calor), e ainda permite que ouça sons diversos a um ligeiro movimento de cabeça (graças ao áudio omni).

Embora seja uma instalação mais simples, a Vídeo-Boleba, da brasileira Celina Portella, não deixa de impressionar, ao cruzar o ambiente real com o virtual. Num aparelho de televisão, instalado ao nível do chão, dois garotos se revezam jogando bolinhas de gude que, ao sumir do quadro, surgem no plano real saindo da lateral da tela, diante do público incrédulo.
Usando técnicas digitais mais avançadas, a instalação Ink Fall, do chinês Seph Li, jovem de 28 anos nascido em Pequim, faz o espectador retroceder 3 mil anos ao colocá-lo no lugar dos pintores orientais que pintavam Shanshui (pinturas de cachoeiras e montanhas). Passando o dedo sobre a tela (que usa um software com mais de 4 mil traços de tinta), ele simula os movimentos dos pintores chineses e ainda ganha como sensação adicional o som de cordas a cada movimento.

Curiosamente, ao pesquisar novas linguagens, os artistas acabam topando com experimentos do passado, caso de Kalejdoskop, da alemã Karina Smigla-Bobinski, que acaba reeditando involuntariamente um trabalho antigo da pintora Amélia Toledo, aproveitado, aliás, pela indústria – porta-copos de PVC flexível com líquido colorido em seu interior (criados em 1970 e que a artista brasileira chamou de ‘discos tácteis’). No experimento alemão, a pressão de um dedo sobre as camadas de folha de PVC produz o mesmo efeito psicodélico ao deslocar as tintas. O mundo dá voltas, mas não muda o mais perfeito invento tecnológico: o olho.

FILE SÃO PAULO. Galeria de Arte do Sesi. Av. Paulista, 1.313, tel. 3146-7439). Diariamente, 10h/20h (entrada até 19h40). Grátis. Até 28/8.