FILE VIDEOARTE 2015

Uma breve introdução à videoarte no FILE

A videoarte surgiu como uma resposta subversiva ao paradigma de fruição da programação televisiva. Utilizou e manipulou as formas de transmissão da imagem, seus signos e sinais eletrônicos. Enveredou-se por vários caminhos em conjunção, por exemplo, com performances, instalações interativas e não interativas. Hoje é tão diversa quando o próprio cinema, com o qual dialoga em muitos aspectos, principalmente em relação ao caráter experimental de suas produções e a construção de micro-universos.
Não mais igual às produções iniciais, mas também nem tão diferente. A videoarte continua sendo um lugar de afirmação de formas particulares de reabitar o nosso mundo e construir outros novos, distanciando-se das produções paradigmáticas voltadas ao entretenimento. Como um meio de expressão artística já consolidado há muitos anos, não é novidade que obras em vídeo sejam mostradas em exposições de arte contemporânea e em festivais de arte tecnológica, estabelecendo um elo entre essas duas instâncias que por vezes parecem separadas, mas que estão conectadas. Afinal, a arte é sempre feita com os meios de seu tempo.
O FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica é um evento que busca abarcar a diversidade de poéticas artísticas desenvolvidas nos meios tecnológicos de produção. Por essa razão, sempre mostrou uma parte da produção nacional e internacional em videoarte. Exibiu, por exemplo, a instalação “Crepúsculo dos Ídolos” (2008), do brasileiro Jarbas Jácome, que criou uma programação que permite ao visitante invadir a programação dos canais abertos da televisão brasileira, ao produzir sons em um microfone localizado em frente a cinco televisores. O título se refere tanto ao ato quanto às imagens produzidas com a interferência sonora, pois ao se inserir na tela em cores que remetem ao crepúsculo do sol, o visitante também apaga gradativamente os supostos ídolos da televisão. Outra obra exibida nas exposições do FILE é “Rheo: 5 Horizons” (2010), do artista japonês Ryoichi Kurokawa. Cinco telas lado a lado na vertical exibem diferentes paisagens naturais que, combinadas ao áudio, proporcionam uma experiência cinestésica ao espectador. O termo grego “rheo” do título significa fluxo e, segundo o artista, a ideia da obra é traduzir “a transição temporal e espacial para o movimento audiovisual como um fluido dinâmico”.
Essas duas obras são demonstrativas da preocupação contínua do festival em abarcar a recente produção artística em vídeo. Na edição deste ano, o FILE exibe uma instalação audiovisual de mapping interativo chamada “Little Boxes”. Da artista espanhola Bego M. Santiago, ela apresenta a imagem de pessoas comuns inseridas em caixas que se assustam com a aproximação do espectador. De aspecto lúdico, a instalação também suscita a reflexão sobre a nossa usual apreensão ao nos aproximarmos de algo que está fora da nossa zona de conforto, as “pequenas caixas” em que inserimos a nós mesmos.
Além dessa instalação, o FILE 2015 também apresenta uma curadoria com um recorte da atual produção artística em vídeo com cerca de sessenta trabalhos de artistas de mais de vinte países. O objetivo é enfatizar a prática de jovens que buscam desenvolver poéticas e linguagens próprias através do vídeo. Assim, são mostrados os desdobramentos atuais da videoarte, bem como uma contrapartida à produção audiovisual de entretenimento.
O destaque dessa curadoria é o trabalho “A Propaganda Film”, do artista suíço Nino Fournier. Baseado em imagens de filmes antigos, ele apresenta questões sobre controle e liberdade que perpassam a história da humanidade. Os filósofos – que teriam o poder de manter o controle ‘longe’ graças ao seu pensamento crítico – abandonaram seu papel, deixando com que esse controle, representado por um olho gigante, pudesse tomar proporções ilimitadas. A pergunta colocada é a seguinte: estariam as pessoas preparadas para reagir a tal situação?
Antigo, portanto, em suas imagens, mas atual e revigorante em sua abordagem e reflexão, “A Propaganda Film” propõe uma meditação universal sobre controle, liberdade e a importância do pensamento crítico. O filme estabelece um diálogo muito próximo com a atual efervescência política pela qual o Brasil passa. Afinal, é um desafio constante pensar além do que nos é apresentado pela mídia de massa e as instituições cujos interesses políticos intervêm na disseminação da informação. Entretanto, conforme a sugestão do filme, podemos reagir ao que consideramos nocivo, pois “não se pode matar uma ideia”, menos ainda quando ela é disseminada na internet, “onde a liberdade ainda é possível”.

Fernanda Albuquerque de Almeida
Curadora do FILE Videoarte

 

PROGRAMAÇÃO

1 Alejandro Casales – And Death Shall Have No Dominion – México
2 Alexandra Dementieva – Sleeper’s Tapestry – Bélgica
3 Alison Bennett – Inverto – Austrália
4 Anna Tolkacheva – Fragments of Dissapearing – Rússia
5 AUJIK – Plasticity Unfolding – Japão
6 AUJIK – AnxOxna – Japão
7 Barbara Oettinger – Catharsis – Chile
8 Benjamin Rosenthal & James Moreno – Human, Next: Phase One – Estados Unidos
9 Benjamin Rosenthal & James Moreno – Human, Next: Phase Two -Estados Unidos
10 Brit Bunkley – Kafka’s Sisters – Nova Zelândia
11 Bruno Costa – Tympanum – Brasil
12 Bruno Mendes da Silva – Neblina – Portugal
13 Christoph Korn – Eingedenken – Alemanha
14 Christoph Korn – Pneuma – Alemanha
15 Daniela Toledo – Imminent Body – Chile
16 Daz Disley & Fenia Kotsopoulou – Here but not here at all at the same time – Reino Unido
17 Devis Venturelli – Suburban Rhapsody – Itália
18 Emiliano Zucchini – Capturing Memories – Itália
19 Felix Frederick – Drki – Austrália
20 Hye Young Kim – Intimate Distance – Estados Unidos
21 Jeroen Cluckers – Oneiria – Bélgica
22 Johan Rijpma – Descent – Holanda
23 Justin Lincoln – Columns – Estudos Unidos
24 Maciej Piatek aka Vj Pietrushka – Kaspar Hauser Song – Reino Unido
25 Maciej Piatek aka Vj Pietrushka – Contemplating Hell – Reino Unido
26 Marc Neys & Sigrun Höllrigl (text) – A Blue Animal Bows – Áustria
27 Marc Neys aka Swoon – Five Miles (Simple Brushstrokes on a Naked Canvas) – Bélgica
28 Mari Nagem – Avesso – Brasil
29 Marion Phillini, Maria Fernanda Calderon, Jon Clair, Ella Phillips & Natasha Sabatini – La tua vita per me – Reino Unido
30 Mark Tholander – Simulacrum – Dinamarca
31 Mark Tholander – #### – Dinamarca
32 Mercedes Helnwein – Cops and Nurses – Áustria
33 minus.log: Giustino Di Gregorio & Manuela Cappucci – Sleeping Beauty – Itália
34 Muriel Montini – Je vais où je suis | I am going where I am – França
35 Muriel Montini – Ceux de la côte | The ones from the coast – França
36 Nicolás Rupcich – EDF (Error de Formato) – Alemanha
37 Nina Ross – Untitled #1 (Pregnancy) – Austrália
38 Nino Fournier – A Propaganda Film – Part I & III – Suíça
39 Nino Fournier – Portrait de la Jeune Fille en Danseuse – Suíça
40 Oksana Chepelyk – COLLIDER_100: Kyiv 2014 – Ucrania
41 Oksana Chepelyk – COLLIDER_100: Sarajevo 1914 – Ucrania
42 Oksana Chepelyk – COLLIDER – Ucrania
43 Po-Yen Wang – Transience – Taiwan
44 pryorart: Jutta Pryor, Teresa Mei Chuc & Masonik – I took nothing – Austrália
45 Samuel Adam Swope – ta-ta-ta-ta-ta? – Hong Kong
46 Sang Jun Yoo – Disapparition – Estados Unidos
47 Sarah Oos – Femme Chanel – Emma Fenchel – Áustria
48 Sarawut Chutiwongpeti – Untitled (Wishes, Lies and Dreams >> Peaceful…) – Suiça
49 Sebastian Tedesco – China – Argentina
50 Shaun Wilson – Uber Memoria Part IV – Austrália
51 Sigrun Höllrigl & Hubsi Kramar (text) – jumboshampoo or Joerg Bungee vanished on the rope – Áustria
52 Silvia De Gennaro – Travel notebooks: Amsterdam – Itália
53 Silvia De Gennaro – Travel notebooks: Perugia – Itália
54 Stephen Hilyard – Waterfall – Estados Unidos
55 Stuart Pound – To be a Ghost – Reino Unido
56 Stuart Pound – Bottle Dance – Reino Unido
57 Tahir Ün – The Game – Turquia
58 Vallet Aliénor – Versus – França
59 Vallet Aliénor – Epic of a disquiet – França
60 Yasmin Davis – Knife Dance – Israel
61 Yasmin Davis – Out of Sync – Israel
62 Yasmin Davis – Still – Israel
63 Youyou Yang – Pre-Invention of a Time Machine: Interview with s.t. Betamon – Alemanha