Philomène Longpré
Octopus
Abstract:
Octopus é uma videoinstalação interativa de autoria de Philomène Longpré.
É o espaço que nos dá corpo. Coloca-nos em posição ereta, estirando-nos contra o horizonte, molda nossos gestos e até mesmo nossos pensamentos e sentimentos. É visto por nós como vazio, embora tenha carga e limites. Pensamos nele como geográfico, social, nacional, econômico, relacional, cultural, virtual ou espiritual, sendo tudo isso ao mesmo tempo. Mesclado e ligado ao tempo, o espaço é uma dimensão que determina nossa relação com o mundo. Há muitos anos, o espaço tem sido tema de pesquisa de Philomène Longpré na área de plástica e estética. No início de sua carreira, ela focava seu próprio espaço interior, buscando torná-lo visível ao dar-lhe forma e cor. Rapidamente, percebeu que esse espaço interior transbordava para o exterior. Seguiu, então, para a Ásia e lá, nos países em que os números tornam-se multidões, Philomène redescobriu o espaço através de sua ausência, invadindo-o. Descobriu que, quando o espaço era definido em alteridade, nem sempre era ela o sujeito de seus próprios movimentos. Cercada e até definida pelo Outro, ela sentia seus movimentos ressoando dentro de si. Apesar disso, foi lá que ela sentiu um outro espaço iniciante, não mais físico e restrito, mas virtual, potencialmente infinito, espaço no qual ela poderia se desenvolver de maneira singular. Espaço físico, espaço virtual, seu próprio espaço? Philomène Longpré retornou de suas viagens pela Ásia com um conceito de espaço renovado. Ele agora aparece simultaneamente mesclado e relativo à pessoa que o experimenta, determinante para a pessoa que está passando por ele e determinado pela pessoa que o habita. De novo em Montreal, Philomène Longpré está aprendendo a fazer com que esse espaço seja visível, por meio do programa de Arte Eletrônica da Universidade de Concórdia. A imagem de vídeo, a linguagem digital e as tecnologias – corpo e espaço da intervenção – são as matérias-primas para o trabalho de Philomène Longpré. Com a imagem de vídeo, ela pode deslocar o espaço, reduzi-lo e dar-lhe um sentido de tempo. Ela começa a criar objetos espaço-temporais que as tecnologias digitais abrem para o espaço diário. Digitalizada, a imagem reage ao movimento capturado no ambiente. Assim, o espaço de Philomène Longpré torna-se heterogêneo, ofuscando as fronteiras entre imagem e realidade, o virtual e o físico. O ser humano é sujeito e objeto de um movimento contínuo. O ser precisa experimentar as limitações a si impostas pelo espaço, adaptar-se a elas e encontrar seu próprio espaço. Toda a natureza física do ser confirma a integridade da presença. Imediatamente, ela une-se ao ambiente, formando uma ocorrência de corpo, e separa-se dele, para incorporar o ambiente através do espírito. Nas instalações de vídeo Plato’s Cavern (2000), Cycle (2001), Passage (2002) e Silence Inexistant (2002), Philomène Longpré transforma a conquista do espaço em um desafio estético.
Octopus (2003) assume esse desafio uma vez mais. Aqui, o espaço é rede, o tempo é cíclico e o indivíduo é constantemente redefinido pelo Outro. Um corpo/sujeito. Uma videoinstalação interativa, Octopus cria um ambiente que integra os visitantes, sem que eles se deem conta. Primeiro, os visitantes descobrem uma imagem de vídeo projetada sobre uma estrutura suspensa no espaço. Móvel, a estrutura é composta de tiras verticais estreitas. Não toca o solo, simplesmente projeta sua sombra sobre ele. Fornece uma superfície para a imagem, mas permite que a luz passe entre as tiras. No espaço atrás dela, traços de luz se formam. Fonte de sombra e luz, a estrutura e a imagem unem-se ao ambiente como corpo. A imagem adiciona uma dimensão temporal cíclica e seu movimento contém três momentos que se sucedem uns aos outros, sem que haja a noção de início ou de fim. Primeiro momento. Um ser individual cria seu próprio espaço. Nascido da imagem, ele se une à estrutura? Que supera pela ação? Para criar corpo. Nem homem nem mulher, ele ou aquilo não tem face, não tem uma identidade específica, não encarna nenhum estado particular. É um ser, o verbo ser propriamente dito. A matéria necessária para criar um espaço não está no ambiente próximo, mas além. Ele a extrai daquele outro lugar que é maior do que a estrutura. Vagarosamente, utilizando um movimento que une o céu e a terra, ele se cerca de um material translúcido, puro, que logo formará um manto, para envolver o ser e protegê-lo sem confiná-lo. Agora, o projeto que se descortina absorve o ser e aliena-o do que está acontecendo ao seu redor. Cada um de seus movimentos é sereno. Ele é o sujeito do movimento e é observado pelos visitantes como um corpo/sujeito de uma ação que os exclui. A conquista do espaço Segundo momento. O indivíduo para. Seu corpo é cercado por fios translúcidos, finos. Ainda como parte do ambiente, ele constrói seu espaço. O ambiente do Octopus aprimora-se. O espaço físico, compartilhado pelo indivíduo e visitantes, agora contém um espaço específico para o indivíduo. Toca a ambos, o céu e a terra, criando uma pequena cosmogonia. O indivíduo acomoda-se nele, mas sem esperar nada em especial. Expressa nada além de uma presença repleta, total para o mundo. Sua contemplação volta-se para o mundo, em direção aos visitantes. Embora o indivíduo seja agora simplesmente presença no Octopus, os visitantes começam a interagir, mas sem se darem conta. Eles podem voluntariamente tentar criar um intercâmbio com o ser, que agora parece os estar observando, esperando algo deles. Mas o quê? Philomène Longpré permite que os visitantes respondam livremente a essa questão. O espaço Octopus se converte em um espaço que os visitantes podem experimentar como queiram. O múltiplo e o relativo são convidados a se desenvolverem. Mas, independentemente de como ajam, se os visitantes provocarem uma mudança no ambiente do Octopus, e o ser reagir àquela mudança, nunca será voluntariamente, de nenhuma das partes. Terceiro momento. Repleto de sensores, o espaço do Octopus é enervado. Ele captura os movimentos dos visitantes sem que esses estejam conscientes disso e os retransmite à estrutura. A estrutura reage sensivelmente e leva a imagem a fazer um movimento destrutivo e transitório. O espaço do indivíduo estremece e é destruído. O indivíduo perde sua forma, funde-se em um ambiente que se transforma em caos. Pura reação. Uma vez sujeito de seus próprios movimentos, o indivíduo é agora o objeto de um movimento cuja origem ele desconhece. Ele fica extasiado, como a estrutura. Então, vagarosamente, a calma retorna: a estrutura recobra a estabilidade, a imagem ganha forma uma vez mais, o indivíduo ressurge, uma única presença corporal. Confirmando a necessidade de gesticulação simplesmente pela repetição, ele começa novamente a criar seu próprio espaço em um ambiente que permanece ainda sensível à presença do Outro. Fronteiras do sujeito, Octopus torna visível as conexões que, jogando com a consciência, unem os indivíduos que compartilham um único espaço-tempo. Ao colocar o ser humano no centro de um espaço conectado em rede, Philomène Longpré o sujeita a um fluxo constante, em todas as direções. Ao colocá-lo em movimento, ela lhe dá corpo. Ao torná-lo sujeito de uma pequena cosmogonia, ela cria um indivíduo dentro do grupo. E, finalmente, ao tornar o corpo/sujeito sensível a seu ambiente, ela explora as fronteiras da individualidade. Em Octopus, o indivíduo apenas ganha forma dentro do espaço, pela incorporação da presença do Outro em seus movimentos, permanecendo sempre uma forma nascente.
Biography:
Ao concluir seu curso colegial (DEC) em Artes de Estúdio no Colégio de Educação Geral e Vocacional de Vieux, Montreal (Cégep du Vieux-Montréal), Philomène Longpré recebeu o prêmio Merite Culture Prize, em 1999. Logo após, passou seis meses em viagem pela Ásia, onde assistiu a um motivante curso de treinamento avançado. De volta a Montreal, ela estudou história da arte na Universidade de Quebec/Montreal e concluiu um bacharelado em Belas Artes pela Universidade de Concórdia. No decorrer de seus estudos na Universidade de Concórdia, ela participou de um programa de intercâmbio para estudantes, com duração de um ano, na Universidade do Novo México e envolveu-se em vários projetos artísticos, tanto como organizadora, quanto como expositora, conquistando as bolsas New Millenium Schollarship da Universidade de Concórdia e Mobility Bursary, ambas em 2001, além dos prêmios Stanley Mills Prize Purchase, em 2001, Golden Key International Honour Society, em 2002 e o Prix d’excellence, em 2003, do Hexagram Institute. Atualmente, dedica-se à pesquisa em Arte e Tecnologia na School of Art Institute of Chicago, tendo recebido, em 2004, as bolsas Trustee Scholarship e FQRSC, do governo de Quebec. Julie Bouchard Formada em computação cognitiva, Julie Bouchard dedica-se à dança e à artemídia desde 1999. Ela escreveu vários artigos para o Le Devoir e para a revista Liberté na qualidade de jornalista e crítica. Em dezembro de 2000, assumiu também o cargo de editora executiva de uma publicação especial sobre dança contemporânea. Como curadora, interessa-se pelo surgimento de novas linguagens corporais sob a influência das novas tecnologias, especialmente pela ligação crescente entre linguagem corporal e linguagem digital.