Ricardo Barreto & Raquel Fukuda
The almost ideal game
Abstract:
Ao lermos o texto do filósofo francês Gilles Deleuze sobre o Jogo Ideal, ficamos perplexos quando ele postula como sendo a primeira regra: “não há nenhuma regra”. Logo, todos os demais jogos que possuam alguma regra são, para ele, parciais. Ou seja, derivados do jogo ideal.
Um jogo em que não há regras implica em um jogo totalmente livre criativamente, no qual qualquer coisa pode ser inventada. A questão a ser levantada é a de haver ou não uma região cinza entre o jogo ideal e os jogos parciais, de tal maneira que as regras estabelecidas nos jogos parciais pudessem ser suspensas. Desta maneira, poderíamos desparcializar os jogos aproximando-o do jogo ideal ou uma espécie de jogo quase ideal.
Se retirarmos as regras de um jogo qualquer, significa que este para imediatamente de funcionar, exceto no jogo ideal. Portanto, a pergunta crucial é: como suspender a regra de um jogo de tal maneira que ele possa continuar funcionando? Num jogo de dados, a regra é simples: ao lançar o dado sobre uma superfície, um ou mais jogadores escolhem anteriormente um número. Quando o dado, depois de lançado, para de se mover, o resultado aparece e aquele que escolheu o número resultante é o ganhador.
A solução que demos para um jogo “quase ideal” a partir do jogo de dado foi modificarmos cada componente da regra para que esta se tornasse suspensa.
1- Modificamos a estrutura cúbica do dado de tal maneira que cada face obtivesse um espaço próprio e para que cada ponto dos números respectivos fosse substituído por outros dados, de modo que cada dado pudesse ser lançado neste espaço interno. O dado-ponto pode agora ser lançado no seu espaço interno.
2- Apesar da modificação estrutural do dado, não houve a garantia da suspensão da regra. Foi necessário conceituarmos da mesma forma que Jorge Luis Borges o fez em sua Biblioteca de Babel, no qual cada dado modificado contivesse em si outros dados modificados numa serialização continuada e indeterminada; sem inicio e sem fim. Desta forma, tanto o lançamento do dado quanto o resultado esperado se tornam infactíveis e consequentemente a regra se torna suspensa.
Quando Stephane Marllarme criou a famosa frase de seu poema de mesmo nome “Un Coup de Dés Jamais N’Abolira Le Hasard”, no qual diz que um lançamento do dado nunca abolirá a sorte, podemos dizer que ela estava completamente errada, pois o dado quase ideal mostrou que, se levarmos a sorte ao extremo, ela se torna infactível, portanto a sorte é abolida.
Biography:
Ricardo Barreto é artista e filósofo. Atuante no universo cultural trabalha com performances, instalações e vídeos e se dedica ao mundo digital desde a década de 90. Participou de exposições nacionais e internacionais tais como: XXV Bienal de São Paulo em 2002, Institute of Contemporary Arts (ICA) London – Web 3D Art 2002, entre outras. Apresentou as instalações digitais Charles in London, Nietzsche – o Primeiro Avator e feelMe em co-autoria com Maria Hsu. Concebeu e organiza juntamente com Paula Perissinotto o FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica.
Raquel Fukuda é animadora 2D, ilustradora e produtora de animação. Formada em Artes Plásticas e Rádio/TV e pós-graduada em Animação. Dirigiu, produziu e animou o curta-metragem autoral “Péssima Ideia, Ernesto”. Já prestou serviços para MTV Brasil, Estricnina Desenhos Animados, Cartoon Network, Gloob, Maurício de Souza Produções, Otto Guerra (Otto Desenhos), O2 Filmes, Filme de Papel, Farofa Studios, Boutique Filmes e Birdo Studio. Desde 2011 coordena o festival de animação FILE Anima+ e desde 2014 co-coordena o Dia Internacional de Animação em SP.