FILE SP 2014 – GAMES

Game Comics

Não é muito difícil perceber algumas semelhanças entre as histórias em quadrinhos e os videogames. Ambos são bastante populares dentro da indústria do entretenimento, baseiam-se na imagem narrativa e possuem relação direta com a linguagem cinematográfica. Por tais motivos, há décadas a indústria do entretenimento usa sua popularidade para criar narrativas transmidiáticas que percorrem o universo do cinema, das animações, dos quadrinhos e dos games. Além de seu valor como entretenimento, ambos são mídias que caminham cada vez mais para o reconhecimento como possíveis formas de arte.
Os quadrinhos estão se aproximando cada vez mais da literatura, ao passo que graphic novels (romances gráficos) são indicadas e, muitas vezes, vencedoras de prêmios de prestígio literário. Este é o caso de “American Born Chinese” de Gene Luen Yang, finalista do National Book Awards; “Sandman” de Neil Gaiman, vencedora dos prêmios de ficção-científica Hugo e Nebula; e “Maus” de Art Spiegelman, vencedora do prêmio Pulitzer.
Já os videogames, principalmente os títulos de estúdios independentes, aos poucos têm voltado sua preocupação à poética do meio, ou seja, características mais relacionadas à ambientação, à estética do software e à recepção do público, e menos ligadas às mecânicas do jogo. Esses elementos muito se assemelham aos da arte interativa e os games dotados de tais características foram apelidados de “notgames” (HARVEY & SAMYN, 2010), por não se encaixar em categorias previamente definidas.
Este ano, a curadoria do FILE Games apresenta “Game Comics”, uma categoria de videogames que dialogam com as histórias em quadrinhos tanto em sua estética quanto em sua narrativa e jogabilidade. Este é o caso de “Framed”, do estúdio australiano Loveshack, que usa a estética dos quadrinhos policiais noir e tem como grande diferencial sua jogabilidade inusitada, que se dá através da movimentação de enquadramentos, criando diversas narrativas. Outro exemplo que brinca com enquadramentos é “Gorogoa” de Jason Roberts, um game totalmente ilustrado à mão, cuja sobreposição de quadros faz com que a história se desenvolva.
Em “White Night” (OSome Studio), não existem enquadramentos, mas podemos observar gráficos em preto e branco baseados nos quadrinhos “Sin City”, de Frank Miller. Além disso, sua narrativa de suspense faz referências claras aos filmes de Alfred Hitchcock, ao cinema expressionista alemão e a outros jogos de suspense como “Alone in the Dark”. Já “Kentucky Route Zero” é um videogame em cinco atos, contando uma aventura mágica e sombria, com gráficos que se assemelham às rotoscopias, muitas vezes utilizadas em histórias em quadrinhos.
Sem esquecer que o jogo é uma atividade lúdica, a curadoria do FILE Games 2014 traz outra faceta do universo dos games com a mostra “Interplay”, com jogos para não se jogar sozinho! Essa pequena mostra inclui três jogos para tablet criados pelo estúdio holandês Game Oven — “Bounden”, “Fingle” e “Bam Fu” –, e dois jogos para Xbox — o divertido “FRU” e o frenético “Lovers in a Dangerous Spacetime”.
Além da mostra “Interplay” e dos “Game Comics”, a curadoria conta com outros títulos de destaque, como os premiados jogos para PlayStation “Papo & Yo”, “Proteus” e “Sound Shapes”. “Papo & Yo” conta a história de Quico e seu melhor amigo, Monstro, o qual tem um sério vício: sapos venenosos. Ao comê-los, Monstro se torna extremamente violento, mas durante suas aventuras, Quico o ajudará a enfrentar esse problema. “Proteus” e “Sound Shapes” são jogos musicais: o primeiro é descrito por muitos como um anti-game ou mesmo notgame, ou seja, se trata de um game exploratório de universo aberto, no qual seus elementos possuem uma assinatura musical; o segundo é um game de plataforma repleto de quebra-cabeças musicais.

Anita Cavaleiro
Coordenadora do FILE Games

FILE GAMES
De 26 de agosto a 7 de setembro de 2014 (diariamente das 10h às 20h)

O FILE Games 2014 apresenta as mostras “Game Comics” e “Interplay”, além de outros títulos inéditos. “Game Comics” é uma categoria de videogames que dialoga com as histórias em quadrinho tanto em sua estética, quanto em sua narrativa e jogabilidade. Sem esquecer que o jogo é uma atividade lúdica, “Interplay” traz outra faceta do universo dos games, com jogos para não se jogar sozinho!

Asteroid Base – Lovers In A Dangerous Spacetime – Canadá

Cardboard Computer – Kentucky Route Zero – Estados Unidos

Ed Key & David Kanaga – Proteus – Estados Unidos

Etter Studio – Drei – Suíça

Game Oven – Bam Fu – Holanda

Game Oven – Bounden – Holanda

Game Oven – Fingle – Holanda

Jason Roberts – Gorogoa – Estados Unidos

JoyMasher – Odallus: The Dark Call – Brasil

JoyMasher – Oniken – Brasil

Kurosh ValaNejad & Peter Brinson – The Cat And The Coup – Estados Unidos

Loud Noises! – Headblaster – Brasil

Loveshack – Framed – Austrália

Might and Delight – Shelter – Suécia

Minority Media Inc. – Papo & Yo – Canadá

Nyamyam – Tengami – Reino Unido

Osome Studios – White Night – França

Playdead – Limbo iOS – Dinamarca

Queasy Games & I Am Robot and Proud – Sound Shapes – Canadá

Right Square Bracket Left Square Bracket Games – Dyad – Canadá

Tale of Tales: Auriea Harvey & Michaël Samyn – Luxuria Superbia – Bélgica

Them Games – InSynch – França

Through Games – FRU – Holanda

ustwogames – Monument Valley – Reino Unido