FILE GIF 2016

FILE GIF 2016 – padrões
GIF como paradoxo do tempo: entre a efemeridade e a permanência

Padrões são repetições que se dão no tempo. Não existe a constatação de um padrão sem que haja o elemento temporal que torna possível a percepção de algo que se repete. O tempo, por sua vez, é inapreensível. Desenvolvemos estratégias para percebê-lo, demarcando segundos, minutos, horas e anos. Achamos que podemos preservá-lo de alguma forma, como quando usamos a fotografia para rememorar um momento que já foi. Mas a realidade é que o tempo nos escapa a todo momento, a cada respiração.

A percepção do tempo tem sido problematizada por muitos teóricos que estudam o impacto das invenções técnicas e tecnológicas na nossa vida cotidiana desde o final do século XIX com a Revolução Industrial. Com o advento da telefonia e das transmissões televisivas, a troca de informações passa a ocorrer “ao vivo”. Se antes demorávamos dias, semanas ou meses até recebermos uma informação, agora, com a internet e os dispositivos móveis, essa informação se torna disponível quase ao mesmo tempo em que é produzida para locais geograficamente distantes. O tempo e até mesmo o espaço se tornam ubíquos.

As GIFs são um fenômeno típico das redes online ubíquas do início do século XXI. Inventadas no final dos anos 1980, elas eram uma forma de produzir, transmitir e armazenar imagens em baixa resolução compatível com a tecnologia da época. Hoje esse objetivo se diluiu, e elas representam a disseminação de padrões que, justamente por sua abrangência, comunicam grande parte dos usuários da web, tornando-se memes, fenômenos culturais cujas informações são propagadas pela internet com grande repercussão, “viralizando-se”. Tão logo são produzidos e disseminados, esses memes se perdem, pois têm caráter efêmero, mas não deixam de existir. Deste modo, assim como os memes, podemos dizer que as GIFs são paradoxais. Efêmeras e permanentes, ou seja, relativas a padrões, portanto a algo que se constitui no tempo, mesmo que esse tempo seja breve e ubíquo.

As GIFs e os memes são geralmente produzidos por anônimos, mas, cada vez mais, há artistas que escolhem esse meio para desenvolver sua poética. Nesta edição do FILE, apresentamos uma seleção de mais de 40 propostas que enfatizam a própria estrutura do meio, ao abordarem padrões, enfatizando-os ou os rompendo-os, sejam eles comportamentais (individuais e sociais) ou formais.

O destaque da exposição é “Dust Loops”, de Sumit Sijher. Como o nome sugere, a GIF contém pontos que se movimentam ao longo do quadro como partículas de poeira. Os movimentos parecem caóticos e aleatórios, mas a sequência possui apenas 20 quadros que se repetem em 2 segundos. Isso torna curioso o fato de não conseguirmos acompanhar a trajetória completa de uma partícula ao longo desses 2 segundos, nem ao longo de 10 ou 60. Segundo o artista, meia hora seria necessária para isso. Essa GIF vem de encontro à proposta desta exposição, pois o tempo aqui é fundamental para a sua compreensão. É uma maneira de expandir a própria noção de GIF, cuja visualização geralmente é brevíssima, bem como suas possibilidades criativas.

A produção de Sijher, assim como a todos os artistas desta mostra, pode ser encontrada online, espalhada pela internet em diversos sites e plataformas de compartilhamento. Elas representam parte da diversidade das GIFs produzidas nos últimos anos, as quais resultam de diversos processos criativos com algoritmos, fotografias, desenhos e animações, mas que tem em comum a repetição que ocorre nas redes físicas e também online.

Fernanda Albuquerque de Almeida
Curadora do FILE GIF 2016

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Programação

1 Bill Domonkos – Open 24 Hours – Estados Unidos
2 Bill Domonkos – Grapevine – Estados Unidos
3 Bill Domonkos – Personality & Crime – Estados Unidos
4 Cal Dean – Minimal Gif 18 – Austrália
5 Cal Dean – Minimal Gif – Austrália
6 Cal Dean – Minimal Gif 19 – Austrália
7 Cal Dean – Minimal Gif 32 – Austrália
8 Cal Dean – Minimal Gif 30 – Austrália
9 Carl Burton – Well – Estados Unidos
10 Carolina Costa – Hypnotist Yamamoto – Brasil
11 Clayton Shonkwiler – Coalesce – Estados Unidos
12 Clayton Shonkwiler – Reinvention – Estados Unidos
13 Clayton Shonkwiler – Epicenter – Estados Unidos
14 Clayton Shonkwiler – Derange – Estados Unidos
15 Clayton Shonkwiler – Come Along – Estados Unidos
16 Cleber Gazana – Read Error: Black – Grey – White – Brasil
17 Cody Walzel – Breadheads – Estados Unidos
18 Dora Bartilotti – _cascade – México
19 Eleonora Roaro – Achilles used to love Mrs Turtle, endlessly – Itália
20 George Redhawk – Meat Meier – Estados Unidos
21 George Redhawk – Pierre Alain D – Estados Unidos
22 George Redhawk – Thomazs Allen Kopera – Estados Unidos
23 INSA – The Loading Series – Inglaterra
24 Jacky Ke Jiang – Timecard Time – Estados Unidos
25 Kevin Welsh – Holding for life – Estados Unidos
26 Leche de Mipalo – Fiends – Porto Rico
27 Leche de Mipalo – The Truth is Ordinary – Porto Rico
28 Leche de Mipalo – Thereur – Porto Rico
29 Nicolas Sassoon – Window – Canadá
30 Samantha Harvey – Deconstruct – Reino Unido
31 Siyu Mao – Nothing but Nonsense – Alemanha
32 Stephen Vuillemin – The New-York Times – França
33 Sumit Sijher – Dust Loops – Estados Unidos
34 Sumit Sijher – Harmonic Twist – Estados Unidos
35 Sumit Sijher – Perpetual Bloom – Estados Unidos
36 Sumit Sijher – Zeno’s Waterfall Phase – Estados Unidos