FILE SÃO PAULO 2015
Evolução da arte digital inspira mostras
Exposição no Rio revê os primórdios do movimento enquanto festival em São Paulo tem panorama da cena atual
Obras criadas a partir de algoritmos surgiram no Reino Unido nos anos 1960 e hoje ganham espaço no mundo todo
Quando a informática ainda engatinhava, uma geração de artistas já tentava criar uma arte computacional, com trabalhos estruturados a partir de algoritmos -o termo que parecia um palavrão entre estetas está hoje na base de um dos campos que mais cresce nas artes visuais.
Duas mostras em cartaz no país exibem agora momentos distintos da evolução da chamada arte digital. Enquanto o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica leva à galeria da Fiesp, em São Paulo, um panorama do mais atual nesse meio, o Oi Futuro, no Rio, revê os primórdios dele com obras de quatro artistas pioneiros da cena eletrônica.
Nos anos 1960, Londres e sua Slade School formavam o centro nevrálgico de experimentações com computadores. Harold Cohen, Ernest Ed-mond e Paul Brown eram alguns dos nomes quebrando a cabeça ali para transformar algoritmos em belas imagens. “Houve uma ruptura. Queríamos fazer uma arte sem assinatura, sem o gesto do artista”, conta Brown, que está agora na mostra carioca. “Minha ideia era desenvolver um processo autônomo e observar que imagens poderiam surgir desses mecanismos independentes do autor.” Nesse sentido, a obra de Brown, que antes de entrar no mundo dos computadores iluminava shows das bandas Pink Floyd e The Who, estava em sintonia com as ideias da arte conceitual que despontava então como vanguarda que pensava a criação de obras a partir de instruções precisas.
Ou seja, importava menos o resultado final e mais o código por trás da obra. “Eles lançaram as sementes do que acontece hoje”, observa Fabrizio Poltronieri, um dos organizadores da mostra no Rio. “Perceberam naquela época que os computadores virariam uma parte integral da vida.” Da mesma forma que os algoritmos da turma britânica deram corpo a imagens figurativas e abstratas, trabalhos da novíssima geração agora em São Paulo também resgatam noções de pintura, como o da americana Carla Gannis, que revisita “0 Jardim das Delícias Terrenas”, obra do século 16 de Hieronymus Bosch.
“Ela se apropria do quadro e cria uma nova iconografia toda estranha nele”, diz Paula Perissino o, diretora do festival paulistano. “A imagem já foi um desafio na tecnologia, mas os códigos se sofisticaram, já existe um domínio da técnica. Estamos caminhando para novas poéticas.”
FESTA PARA OS OLHOS
Tanto que sua mostra também abriu espaço para esculturas, instalações e até um filme, longa do austríaco Gustav Deutsch inspirado nas pinturas de Edward Hopper -parece ser um esforço dessa cena para romper com a ideia de gueto em que a arte digital ficou isolada das demais linguagens artísticas.
Mas é talvez nessa aproximação com outros campos estéticos que a arte digital arrisque perder seu viés crítico. “Estamos presos aos nossos telefones e não prestamos atenção no mundo que existe além deles”, diz Frieder Nake, artista alemão também na mostra do OI Futuro. “Em tempos em que tudo é controlado por dados e algoritmos, deveríamos ser mais críticos e céticos. A arte não pode ser engolida pelas redes sociais. Deveria ser uma festa para os olhos e para o corpo.”
FESTIVAL INTERNACIONAL DE LINGUAGEM ELETRÔNICA
QUANDO todos os dias. das 10h às 20h; até 16/8
ONDE Centro Cultural Fiesp. ay. Paulista. 1.313, tel. (11)3528-2000
QUANTO grátis
CÓDIGOS PRIMORDIAIS QUANDO de ter. a dom. das llh às 20h; até 16/8
ONDE Oi Futuro, r. Dois de Dezembro. 63. Rio, tel. (21) 3131- 3060
QUANTO grátis