FILE VIDEOARTE 2017

VIDEOARTE

Nuances do tempo no FILE Videoarte 2017

Na 18ª edição do FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica em São Paulo, o FILE Videoarte 2017 apresenta uma seleção com 22 obras de artistas de 15 países. Entre estas obras, seis compõem os premiados da primeira edição do FILE Video Art Award. Em 1º lugar, “Performance Capture: Part 2”, do holandês Mike Pelletier; em 2º lugar, “The Stream VI”, do japonês Hiroya Sakurai; e em 3º lugar, “Landscape for a person”, da argentina Florencia Levy. As três menções honrosas são dedicadas a obras de artistas mulheres: “Forsaken Forest”, da polonesa Anna Beata Baranska, “Garden Conversations”, da colombiana Diana Salcedo, e “Estado Líquido”, da brasileira Fernanda Ramos.
As obras ressaltadas nesta edição do FILE Videoarte demonstram que, quando se trata de arte, a técnica é menos importante que a poética na realização de uma proposta. O conjunto de vídeos apresentado nesta exposição abrange desde técnicas mais antigas, como a captura da câmera em live action, a animação de fotografias em stop motion e a edição de imagens encontradas, até tecnologias mais recentes, tais como softwares de captura de movimento e animação em 3D. Em todos os casos, independentemente da técnica empregada na concepção das imagens, as obras convidam o espectador a perceber as nuances do tempo. Essas nuances podem emergir de considerações sobre o momento histórico em que vivemos ou de constatações da passagem de outros tempos possíveis, quando estamos engolfados em um cotidiano acelerado.
Em “Performance Capture: Part 2”, por exemplo, Mike Pelletier cria imagens de seres humanóides cujos corpos inflam e desinflam à medida que se movimentam, criando um cenário onírico reforçado pelo som. Como comenta o artista, “o que deveria ser usado para registrar, simular e criar realidades virtuais perfeitas, pelo contrário sucumbe para o excepcional, o abstrato e o irreal”. Hiroya Sakurai também cria imagens excepcionais em “The Stream VI”. Mas, diferente de Pelletier, que usa novas tecnologias, Sakurai registra o fluir da água nos antigos arrozais produzidos artificialmente na natureza, criando um ambiente poético que nos mostra a passagem do tempo junto à água corrente. Por sua vez, em “Landscape for a person”, Florencia Levy cria uma suspensão no tempo, ao apresentar imagens de diferentes partes do mundo – coletadas do Google Street View – combinadas com áudios de pessoas em situação de trânsito ou deportação. A contraposição entre as falas em velocidade habitual e as imagens desaceleradas cria certo estranhamento e evidencia a violência envolvida nesses trânsitos, embora nenhuma imagem violenta seja exibida.
Os demais vídeos da exposição apresentam diversas situações que dialogam com essas propostas. Em “Forsaken Forest”, de Anna Beata Baranska, é possível contemplar os pequenos detalhes que indicam a passagem do tempo em uma floresta simulada. Em “Garden Conversations”, de Diana Salcedo, natureza, humano e máquina compõem uma dança, tornando-se um ser uníssono. Caso diferente de “Estado Líquido”, de Fernanda Ramos, que apresenta um experimento audiovisual sobre o lixo, fazendo referência ao polêmico rompimento da barragem da mineradora Samarco em 2015, no distrito de Mariana, em Minas Gerais. Nesta obra, o lixo representa fraturas, ou perturbações, na fluidez da passagem do tempo e da paisagem natural.
Essas obras reforçam a ideia de que, assim como a técnica é menos importante que a poética na arte, a decisão sobre que tipo de uso será feito das ferramentas que dispomos é essencial na escolha entre possibilitarmos a concretização de cenários distópicos ou agirmos contra esta tendência para que tais cenários não se tornem reais. Neste sentido, a criação da possibilidade de percepção das nuances do tempo torna-se uma ação essencial na discussão sobre que futuro queremos. Tais como os “espaços vazios” do cinema propiciam um momento de contemplação fora dos prolongamentos relativos à ação, as obras desta exposição proporcionam brechas no tempo veloz do dia-a-dia e chamam atenção para questões do momento em que vivemos e de outros tempos imaginários e possíveis.

Fernanda Almeida
Curadora do FILE Videoarte 2017

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FILE VIDEO ART AWARD 2017

Premiados

1º Lugar

Mike Pelletier – Performance Capture: Part 2 – Holanda

Em “Performance Capture: Part 2”, sequências de captura de movimento de uso livre são traçadas como personagens em 3D. Os corpos inflam, desinflam e oscilam entre estados enquanto os movimentos se alteram e repetem em padrões contrabalanceados e as informações são transferidas de um corpo ao outro. Na animação, o que deveria ser usado para registrar, simular e criar realidades virtuais perfeitas, pelo contrário sucumbe para o excepcional, o abstrato e o irreal.

2º Lugar

Hiroya Sakurai – The Stream VI – Japão

Nos cursos de água feitos pelo homem nos arrozais, a água na natureza deve seguir regras artificiais, dando origem a uma nova forma de beleza distinta do estado natural. Esta obra é um balé que utiliza o som e o movimento das algas e da água nesse ambiente.

3º Lugar

Florencia Levy – Landscape for a person – Argentina

“Landscape for a person” (Paisagem para uma pessoa) traça um caminho através de diferentes locais em uma sequência de imagens. O material visual foi filmado no Google Street View e depois editado com entrevistas em áudio de pessoas que estavam em conflito de trânsito ou deportação.

Menções honrosas

Anna Beata Baranska – Forsaken Forest – Polônia

Escuridão, árvores balançando, insetos zumbindo. A natureza muda lentamente, conduzida pelo seu ritmo natural. Podemos ver o que a natureza nos oferece: árvores, nuvens, insetos, pássaros, sol, lua, grama, um pouco de pólen, poeira, mas também algo a mais. A racionalidade rasteja um pouco irracional para discretamente tornar a paisagem um pouco mais irreal.

Diana Salcedo – Garden Conversations – Colômbia

As lembranças voltam à vida em diferentes formas, de objetos ao corpo e o lugar onde habitavam. Deve-se notá-los e iniciar uma conversa com eles. Dirigido e editado por Diana Salcedo; Coreografia de Martha Hincapié Charry; Música de Ana María Romano; Programação de Miri Park; Figurinos de Natalia Esguerra Villegas.

Fernanda Ramos – Estado Líquido – Brasil

“Estado Líquido” é um documentário experimental sobre o descontrole do lixo, o vazamento de dejetos liquefeitos e suas consequências. Criado através de animação com fotografias, foi filmado em dezembro de 2015 no distrito de Mariana, MG, Brasil.

Jurados

Anna Vasof é arquiteta e mídia-artista. Com suas invenções engenhosas e maravilhosas, ela cria objetos, ações, instalações e vídeos divertidos, poéticos e críticos. Desde 2004, seus vídeos e curtas-metragens são apresentados e ganharam prêmios em vários festivais internacionais. Ela está atualmente trabalhando em uma tese de doutorado sobre Non-Stop Stop-Motion, um método de animação que ela está desenvolvendo.

Bego M. Santiago é uma artista visual da Galícia com base em Berlim. Ela considera sua produção artística interdisciplinar e se especializa no uso da luz como uma ferramenta pictórica e escultórica. Ela pretende explorar o feedback entre a realidade e a representação e gosta de jogar com binômios como: real/falso, presença/ausência e original/cópia. A luz é para ela a ferramenta perfeita para a geração de ilusões ópticas e simulação, permitindo dar vida a objetos inanimados, obscurecendo os limites entre realidade e representação, presença e ausência.

PROGRAMAÇÃO VIDEOARTE
1 Albert Bayona – Darrere la Benzinera – Espanha
2 Anna Beata Baranska – Forsaken Forest – Polônia
3 Anne Beal – Positioning – Estados Unidos
4 APOTROPIA: Antonella Mignone & Cristiano Panepuccia – Echoes of a Forgotten Embrace – Itália
5 Brit Bunkley – Ghost Shelters – Nova Zelândia
6 Diana Salcedo – Garden Conversations – Colômbia
7 Fabiano Rodrigues – Ratsrepus – Brasil
8 Fernanda Ramos – Estado Líquido – Brasil
9 Florencia Levy – Landscape for a person – Argentina
10 Francesca Leoni & Davide Mastrangelo – Simulacro – Itália
11 Hiroya Sakurai – The Stream VI – Japão
12 Kai Welf Hoyme – Skeleton – Alemanha
13 Karoline Georges – Profile Update – Canadá
14 Karoline Georges – REPÈRES (Landmarks) – Canadá
15 Lynn Bianchi – Grasshoppers – Estados Unidos
16 Mike Pelletier – Performance Capture: Part 2 – Holanda
17 Przemek W?grzyn – Practice – Polônia
18 Rodrigo Faustini – Dissimulados – Brasil
19 Rogelio Meléndez – Pausa – México
20 Sandra Crisp – Remote City (skygardens_towers) – Reino Unido
21 Sigrun Höllrigl & George Chkheidze – A Man and a Woman – Áustria
22 Susanna Flock – Fetish Finger – Áustria